quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

. Persuasão e manipulação


O objetivo principal do discurso argumentativo é passar uma mensagem e, em última análise, fazer com que o auditório - aqueles a quem a mensagem se destinam - adira a essa mesma mensagem. Numa palavra, persuadir.
Persuadir, do latim persuadere, significa convencer, levar alguém a aceitar as nossas ideias. Há, no entanto, duas formas de o fazer. De um modo legítimo, isto é, quando desenvolvemos bons argumentos e promovemos o debate. E de um modo ilegítimo, quando tentamos impôr as nossas opiniões recorrendo a estratégias menos honestas. No primeiro caso, falamos em persuasão racional. No segundo, de persuasão irracional ou manipulação.
A persuasão racional, tal como a palavra indica, consiste numa sucessão de razões que tornam o nosso discurso convincente. Isto é, a força do que dizemos deriva do facto de o fazermos de modo organizado, com o auxílio de bons argumentos. O nosso interlocutor, ou auditório, é persuadido porque compreende que se trata de um bom discurso, claro e sem falácias. Um discurso, portanto, dirigido à inteligência, que promove o debate e contribui para esclarecer a verdade das coisas.
Quando, por sua vez, desenvolvemos um discurso que não respeita a autonomia do nosso interlocutor e em vez de nos concentrarmos no logos, no encadeamento de boas razões, nos concentramos no pathos, tentando explorar as suas paixões, dizemos que estamos perante um discurso manipulador. Um discurso, ao contrário do primeiro, que não respeita a inteligência daquele que pretende convencer, podendo mesmo ser confundido com uma imposição, ainda que disfarçada. Dito de outro modo: em vez de promover o debate e levar o interlocutor a aceitar por si próprio aquilo que está ser defendido, o discurso dirige-se à sua dimensão irracional, as paixões - o pathos -, impedindo-o de pensar. Tal como acontece quase sempre na publicidade e na propaganda, ambas empenhadas em adormecer o pensamento crítico, seduzindo em vez de convencer, explorando as fraquezas das pessoas.
Convencido em relação à necessidade de estudar Filosofia? Pois é... sem ela jamais desenvolverás o teu espírito crítico. E sem espírito crítico não há muito a fazer, serás sempre uma presa fácil nas garras daqueles que manipulam - os publicitários, os propagandistas, os maus políticos, os fazedores de opinião... -. Jamais pensarás de forma autónoma, sem preconceitos, limitarte-ás a reproduzir o pensamento dos outros sem que possas avaliar a sua consistência. Ainda não estás convencido? Então lê o texto que se segue, da autoria de Hitler, um dos maiores genocidas da história e sem dúvida um mestre na arte da manipulação:
Toda a propaganda deve ser popular e o seu nível intelectual tem de ser ajustado à mais limitada inteligência de entre aqueles a quem é dirigida. (...) Quanto mais modesta for a sua bagagem intelectual..., mais eficiente será.


2 comentários:

  1. Olá professor Francisco,
    Sou o António do 11º D e tenho uma dúvida: se alguém (político ou sem ser político) acreditar piamente numa ideia, num conceito ou numa teoria e tentar persuadir outros, está a utilizar falácias e um discurso com argumentos falsos?
    Uma pessoa é mentirosa se acreditar realmente naquilo que diz, apesar de outros saberem que é mentira (à semelhança da psicopatia)?

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    1. Olá António!
      Folgo em saber que a tua estadia no hospital não te impede de pensar bem! Parabéns por isso! Em relação ao que me perguntas, deixa-me dizer-te que não tens uma dúvida, mas duas.
      Resposta à primeira: ter uma convicção, mesmo que infundada, como acontece com os preconceitos, não constitui por si só uma falácia. Uma convicção não é um raciocínio ou argumento. Esses sim, podem ser, ou não, falaciosos. Isto quer dizer que podes argumentar validamente, ou não, mesmo para convenceres os outros a partilharem a tua convicção.
      Resposta à segunda: esta questão é bem mais complexa e não está necessariamente relacionada com a questão da argumentação. À semelhança dos psicopatas, para utilizar a tua expressão, podemos defender que uma pessoa que não tem consciência de que está a mentir não é mentirosa. Isto é, mentir é um ato deliberado, intencional, no sentido de distorcer ou esconder a verdade. Ainda assim, mesmo que não sejas mentiroso, isto é, mesmo que não tenhas consciência de que o que dizes não é verdade, como pode acontecer quando não testamos as nossas convicções, isso não significa que o que dizes não seja falso. O que nos leva a distinguir a mentira, que é uma questão intelectual/moral, da falsidade, que é uma relação de desadequação entre o que dizemos e o que é referido pelo que dizemos, isto é, entre o discurso e a realidade a que o discurso se refere. Ou seja, podes dizer uma série de falsidades mesmo que não estejas a mentir (porque não sabes que estás)
      Espero ter ajudado! Acrescento, no entanto, sobretudo em relação à segunda questão, que nem todos concordarão com a minha noção de mentira. Pensa mais no problema e tira as tuas conclusões: sapere aude!
      Agora o mais importante: continua a lutar como eu sei que estás a lutar por aí! Nós cá estamos à tua espera, quando tiver que ser. Entretanto, vamos estudando filosofia deste modo!
      Abraço e muita coragem!
      F.O.

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