Depois de compreendermos a argumento dos céticos, que negam a possibilidade de qualquer conhecimento, a proposta racionalista de Descartes e o empirismo de David Hume, que acreditavam na existência de crenças básicas capazes de sustentar o conhecimento, a pergunta "será possível conhecer?" ficaria sem uma boa parte da resposta se não fizéssemos uma referência a Immanuel Kant.
Tal como defendiam os empiristas, defende que num primeiro momento somos sempre estimulados pelo mundo exterior, registamos sensações, a base das perceções que em Kant têm o nome de intuições sensíveis. É esse o papel da sensibilidade, registar passivamente os dados provenientes dos sentidos. Num segundo momento, agora mais próximo dos racionalistas, o entendimento entra em ação e organiza as intuições sensíveis. Levando-nos, por exemplo, a enquadrar essas intuições no espaço e no tempo, dois conceitos que detemos a priori. Daí podermos afirmar que Kant supera dialeticamente - supera sem anular - o empirismo e o racionalismo: todo o conhecimento começa na experiência mas nem todo deriva dela. O mesmo é dizer que as intuições de nada serviriam sem os conceitos que as organizam, tratar-se-ia de um registo caótico de sensações, sequenciais mas sem sentido, como acontece com os animais para quem não existe noção de futuro. Assim como de nada serviria estarmos habilitados para conhecer e ver organizadamente, se nada tivessemos para organizar, se não tivéssemos a capacidade de ser impressionados pelo mundo exterior: pensamentos sem conteúdos são vazios, intuições sem conceitos são cegas.
O melhor exemplo da superação de que falo são os juízos sintéticos a priori, uma novidade kantiana. Como sabem do estudo da Lógica, os juízos sintéticos são extensivos, o predicado acrescenta informação à que colhemos da mera análise do sujeito, a posteriori, portanto: "O Rui é alto.". Enquanto que os a priori são analíticos, o predicado não é acrescentado pela experiência, resulta da mera análise do sujeito: "O triângulo tem três ângulos.". Ou seja, opõem-se. Ora, a novidade está exatamente aqui: Kant fala de juízos sintéticos a priori. Por um lado, o predicado não está incluído no sujeito, trata-se de um conceito distinto, acrescenta informação, é extensivo. Por outro, conseguimos perceber a sua necessidade sem recorrer à experiência, a priori. É o que acontece, por exemplo, com os juízos da geometria: "A reta é a distância mais curta entre dois pontos.". A noção de "distância mais curta" não está incluída na noção de reta. No entanto, todos percebemos que o juízo é necessariamente verdadeiro sem termos que fazer a experiência de medir.
Se quiseres saber mais sobre este grande filósofo do século XVIII, o século das Luzes, podes ver o vídeo em cima. Ajudar-te-á a perceber melhor o que acabas de ler, além de que poderá ser um bom tónico para as aulas que se adivinham sobre a Moral do mesmo autor: sapere aude!
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