quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

. Conhecimento como crença verdadeira justificada (II)


A definição de conhecimento como crença verdadeira justificada foi aceite sem qualquer constestação durante mais de dois mil anos - não te esqueças que já Platão se referia ao conhecimento desse modo -. Hoje, continua a ser aceite, mas com alguns cuidados, sobretudo no que respeita à justificação que damos para os conhecimentos que afirmamos possuir. Isto porque em 1963 um filósofo americano, Edmund Gettier, forneceu alguns contra-exemplos - exemplos que contrariam a definição - que mostram que podemos ter uma crença verdadeira justificada sem que essa crença seja conhecimento. Tal como o que se segue:
Imagina que o Pedro vai à praia onde também se encontra a Mafalda. Imagina também que o Pedro não levou toalha porque está convencido que a Mafalda tem uma a mais na mochila e lha pode emprestar. O Pedro tem, portanto, uma crença. Que neste caso está justificada, uma vez que a Mafalda lhe tinha dito que levaria uma toalha a mais porque a Rita também lhe tinha pedido. Até aqui tudo bem. Agora imagina o seguinte: sem que o Pedro soubesse, a Rita mudou de ideias e telefonou à Mafalda a dizer que não ia, mas que a toalha continuaria a ser necessária, uma vez que o Manuel também ia e ele é um cabeça no ar. Como o Manuel é distraído e a Mafalda é boa companheira, esta leva a toalha a contar com ele. Ou seja, a Mafalda tinha uma toalha a mais, efetivamente, não por causa da Rita como o Pedro pensava, mas por causa do Manuel. Isto quer dizer que o Pedro tem uma crença verdadeira justificada. Logo, segundo a definição tradicional de conhecimento, o Pedro sabe disso. Mas será que sabe tal coisa? A resposta é não, uma vez que aquilo que justifica a crença do Pedro não é a razão pela qual a Mafalda levou a toalha extra. Ou seja, a crença do Pedro revelou-se verdadeira por acidente, por mera sorte. Conclusão: a crença verdadeira justificada não é suficiente para o conhecimento.
Atenção: como muitos outros filósofos disseram, os contra-exemplos de Gettier não serão suficientes para pôr em causa a definição tradicional de conhecimento, mas uma boa ocasião para fortalecer a noção de justificação requerida pela definição. Ou seja, para voltarmos ao exemplo, será que justificar uma crença porque alguém nos disse que é assim e não de outro modo, constitui uma boa justificação? E se a nossa fonte for um mentiroso compulsivo? Bom....agora é a tua vez de "puxar" pela cabela e engendrares os teus próprios contra-exemplos.

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