“Qualquer
coisa, não importa de que forma, de que matéria, de que tamanho, de que cor,
etc., pode ser uma obra de arte. Esta afirmação não significa que todos os
objectos são obras de arte, de maneira nenhuma, ela apenas quer dizer que basta
ser posicionado como obra de arte numa esfera artística para que qualquer
objecto possa sê-lo de facto. Um objecto não é uma obra de arte, torna-se obra
de arte.
É
inútil continuar a imaginar que as obras de arte são em si mesmas obras de
arte, que ocupam de modo inalienável o lugar que ocupam. E a razão é a
seguinte: não é porque um objecto é uma obra de arte que ele se encontra
exposto num museu, pelo contrário, é porque está exposto num museu que um
objecto é uma obra de arte. Não se trata de uma questão de gosto, mas de
contexto e de graus. Pensemos por instantes nos animais de jardim zoológico. O
que é um animal de jardim zoológico? Um animal que possuísse em si mesmo esta
ou aquela característica? Não, um animal de jardim zoológico é um animal
idêntico aos outros animais, mas que se encontra num jardim zoológico. O que é
uma obra de arte? Um objecto que possuísse esta ou aquela característica? Não,
uma obra de arte é um objecto idêntico aos outros objectos, mas que se encontra
exposto numa galeria ou num museu.
Se
um objecto é uma obra de arte em função do seu posicionamento numa esfera
artística, o facto de ser uma obra de arte não pode ser uma questão de tudo ou
nada, mas uma questão de graus. Alguns objectos são mais obras de arte do que
outros e o mesmo objecto pode ser mais ou menos obra de arte. Em qualquer dos
casos, tudo depende do seu grau de exposição. Um quadro exposto no teu salão é
menos obra de arte do que um quadro exposto numa galeria de arte e um quadro
exposto numa galeria de arte é menos obra de arte que um quadro exposto num
museu de belas-artes. Em suma, acontece com as obras de arte como com o
bronzeado. Da mesma maneira que um corpo pode estar mais ou menos exposto ao
sol, assim um objecto pode estar mais ou menos exposto à luz do museu.”
(Stéphane Ferret, Aprender com as coisas, pp. 52-53)
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