domingo, 1 de março de 2020

. Ainda sobre a Teoria Institucional: para ler e pensar!


                “Qualquer coisa, não importa de que forma, de que matéria, de que tamanho, de que cor, etc., pode ser uma obra de arte. Esta afirmação não significa que todos os objectos são obras de arte, de maneira nenhuma, ela apenas quer dizer que basta ser posicionado como obra de arte numa esfera artística para que qualquer objecto possa sê-lo de facto. Um objecto não é uma obra de arte, torna-se obra de arte.
                É inútil continuar a imaginar que as obras de arte são em si mesmas obras de arte, que ocupam de modo inalienável o lugar que ocupam. E a razão é a seguinte: não é porque um objecto é uma obra de arte que ele se encontra exposto num museu, pelo contrário, é porque está exposto num museu que um objecto é uma obra de arte. Não se trata de uma questão de gosto, mas de contexto e de graus. Pensemos por instantes nos animais de jardim zoológico. O que é um animal de jardim zoológico? Um animal que possuísse em si mesmo esta ou aquela característica? Não, um animal de jardim zoológico é um animal idêntico aos outros animais, mas que se encontra num jardim zoológico. O que é uma obra de arte? Um objecto que possuísse esta ou aquela característica? Não, uma obra de arte é um objecto idêntico aos outros objectos, mas que se encontra exposto numa galeria ou num museu.
                Se um objecto é uma obra de arte em função do seu posicionamento numa esfera artística, o facto de ser uma obra de arte não pode ser uma questão de tudo ou nada, mas uma questão de graus. Alguns objectos são mais obras de arte do que outros e o mesmo objecto pode ser mais ou menos obra de arte. Em qualquer dos casos, tudo depende do seu grau de exposição. Um quadro exposto no teu salão é menos obra de arte do que um quadro exposto numa galeria de arte e um quadro exposto numa galeria de arte é menos obra de arte que um quadro exposto num museu de belas-artes. Em suma, acontece com as obras de arte como com o bronzeado. Da mesma maneira que um corpo pode estar mais ou menos exposto ao sol, assim um objecto pode estar mais ou menos exposto à luz do museu.”
(Stéphane Ferret, Aprender com as coisas, pp. 52-53)



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