O facto de terem surgido novas
formas de arte, tais como o cinema e a fotografia, e de galerias de arte terem
exibido coisas como um monte de tijolos ou uma pilha de caixas de cartão,
tornou a questão particularmente difícil. Chegámos a uma situação em que tudo e
mais alguma coisa pode ser arte. Há uma imensa variedade de obras de arte –
pinturas, esculturas, peças de teatro, filmes, romances, peças musicais,
bailados –e todas elas parecem ter muito pouco em comum. Isto levou alguns
filósofos a defender que não é possível definir a arte, uma vez que não é
possível encontrar um denominador comum perante tamanha diversidade de obras de
arte e de géneros artísticos. Para sustentar esta opinião, estes filósofos
basearam-se numa noção usada pelo filósofo Ludwig Wittgenstein, a saber, a
noção de parecença familiar. Ou seja, o Marcelo pode parecer-se ligeiramente
com o seu pai e o seu pai com a irmã dele. Contudo, pode acontecer que o
Marcelo não se pareça com a sua tia. Com as obras de arte passar-se-ia o mesmo:
embora pertencentes à mesma família, podem não existir características
observáveis partilhadas por todas. Numa palavra, se isto for verdade, é um erro
procurar uma definição geral de arte. O melhor que podemos desejar é uma
definição de uma certa forma de arte, como o romance, a pintura abstracta, o
filme de ficção ou a sinfonia.
Críticas à teoria da parecença familiar
Independentemente de os
elementos de uma mesma família exibirem, ou não, características comuns
observáveis, há algo que os une inevitavelmente: o facto de estarem
geneticamente relacionados. Tal como nos jogos, não há nada de visivelmente
comum ao jogo da macaca e a um jogo de futebol. No entanto, trata-se de um jogo
em ambos os casos, isto é, em qualquer dos casos estamos perante um evento cujo
interesse não é prático, em que espectadores e jogadores escapam ao ritmo do
mundo da produção. Com a arte poderá acontecer o mesmo. O facto de não existir
uma característica comum observável não significa que não existam propriedades
comuns não observáveis. Ou seja, mesmo que o denominador comum a todas as
formas de arte se revele pouco importante, é possível encontrar um. Numa
palavra, vale a pena ensaiar uma definição de obra de arte. Vejamos, então,
algumas tentativas nesse sentido.
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