domingo, 29 de março de 2020

. Filosofia da religião 1: o problema da existência de deus e a sua importância filosófica



Colocar o problema da existência de deus - deus existe ou não existe? - significa, num primeiro momento, perguntar se a existência humana e a vida têm ou não sentido.
Para quem nega a existência de deus, como Nietzsche, a vida será destituída de qualquer sentido objetivo - em si mesma e para lá daquele que cada um de nós lhe atribui -, e provavelmente absurda, como absurda é a tarefa de Sísifo.  A não ser, pois claro, que o sentido seja entendido subjetivamente, isto é, a vida terá o sentido que cada um lhe confere. Tal como defende Sartre, um existencialista francês para quem não haveria qualquer essência ou natureza humana que cada um de nós estivesse condenado a concretizar. Para este filósofo, não só não estamos condenados a cumprir um plano essencial e objetivo - um plano divino, por exemplo -, como ninguém nos pode substituir nas decisões que tomamos - é a isso que estamos condenados, a ter de decidir -. Ou seja, ainda de acordo com o existencialista, primeiro existimos e só depois nos tornamos naquilo que somos - não somos como um pisa papéis particular que concretiza a ideia geral e abstrata de pisa papéis! -, sempre em resultado das nossas decisões livres e nunca cumprindo um plano que nos escapa. Quanto mais responsáveis, as nossas decisões, mais sentido fariam, como virá a dizer Susan Wolf, uma filósofa americana contemporânea, otimista, para quem "as vidas com sentido são vidas de entrega ativa a projetos de valor".
Para quem supõe a existência de Deus, por seu turno, como são os casos de Tolstoi, um escritor russo, e Kierkegaard, um filósofo dinamarquês, ambos do século XIX, a vida tem o sentido objetivo que Deus lhe confere. Privado de uma relação com Deus, o ser humano desperdiçaria a sua vida e estaria condenado ao desespero absoluto. Com Deus, somos muito mais que mero grão de poeira num universo infinito, somos criaturas de passagem entregues a uma missão superior, além de que podemos aspirar à vida eterna. É isso que devemos concluir dos chamados argumento do propósito, segundo o qual Deus dá sentido à nossa existência porque lhe dá um propósito ou finalidade,  e do argumento teísta, defendido por Philip Quinn já no século XX, segundo o qual a vida não fará sentido senão formos imortais e nada do que fizermos for permanente. 



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