domingo, 1 de março de 2020

. Teoria Institucional


A teoria institucional é uma tentativa recente de explicar como coisas tão diferentes como Macbeth de Shakespeare, a Quinta Sinfonia de Beethoven, as fotografias de William Klein, as instalações de Joana Vasconcelos, etc., podem ser consideradas obras de arte. A teoria afirma existirem duas características comuns a todas elas. Em primeiro lugar, todas são artefactos, isto é, todas foram parcialmente manipuladas por seres humanos - a mera transposição de um pedaço de madeira ou de uma pedra, como acontece no caso de Alberto Carneiro, do seu meio natural para uma galeria ou museu é considerado manipulação -. Em segundo lugar, e isto é o mais importante, todas essas coisas foram baptizadas de obra de arte. Ou seja, existe o chamado mundo da arte, uma elite constituído por artistas, galeristas, críticos de arte, entre outros, que tem o poder de atribuir o estatuto de obra de arte àquilo que muito bem entendem. Tal como aconteceu no princípio do século XX com Marcel Duchamp, que está na base desta teoria e que resolveu baptizar um urinol de A Fonte para o exibir numa exposição de jovens artistas.



Críticas à teoria institucional

Em primeiro lugar, a teoria institucional não distingue boa de má arte: se eu fosse um membro do mundo da arte, nada me impediria de exibir o meu sapato numa galeria e torná-lo uma obra de arte. Ou seja, o termo arte é usado num sentido meramente classificativo – isto é arte – e não valorativo – isto é arte porque é belo ou porque causa prazer -. Em segundo lugar, a teoria institucional é circular: a arte é o que um certo grupo de privilegiados decidir chamar arte, ou seja, parece um jogo de palavras – um jogo politicamente perigoso, uma vez que só alguns têm esse dom, como Midas que tranformava em ouro aquilo em que tocava -. Por último, e esta é a objecção mais forte à teoria institucional, ninguém sabe quais os critérios usados pelo mundo da arte. Que razões levam os membros do mundo da arte a baptizar uns objectos e não outros? Sem uma lógica por detrás do que fazem é difícil perceber o interesse das obras de arte. Por outro lado, se há uma lógica, isto é, se há razões para classificar alguns objectos de obra de arte, então a teoria institucional seria desnecessária.

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