quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

. FI6: Homem de palha ou espantalho


À semelhança do que se passa no treino militar e em tempos mais remotos na preparação dos duelos de capa e espada em que se usava um boneco de palha, esta falácia consiste em distorcer o ponto de vista do opositor para melhor o atacar - o ponto de vista distorcido não é o verdadeiro ponto de vista, da mesma maneira que o homem de palha não é o verdadeiro adversário -. Distorce-se o ponto de vista, isto é, faz-se uma caricatura da posição apresentada - um espantalho -, e conclui-se que o primeiro é igualmente inaceitável. Trata-se, mais uma vez, de uma falácia muito comum em debates políticos: simplifica-se a ideia do opositor, extraindo uma frase do contexto, por exemplo, para refutar de seguida o adversário. Do ponto de vista da retórica, pode ser uma falácia muito eficaz, basta que o auditório não se aperceba da diferença entre o argumento real e o argumento distorcido. Vejamos alguns exemplos:
As pessoas que defenderam a despenalização do aborto não acreditam numa prevenção responsável da gravidez. Mas nós queremos uma sexualidade responsável. Logo, o aborto nunca deveria ter sido despenalizado.
O que os defensores da eutanásia querem é muito claro. Querem matar as pessoas que estão muito doentes. Oponho-me, portanto, à eutanásia.

Observação: recorrer ao homem de palha não é uma boa estratégia. Não devemos fazer com que o nosso argumento seja bom à custa de caricaturar o ponto de vista oposto. Geralmente, as pessoas têm razões sérias e sinceras para defenderem a sua posição. É necessário compreender o ponto de vista delas, mesmo que pareçam completamente erradas. Uma pessoa que se opõe ao uso de uma nova tecnologia, por exemplo, não é necessariamente a favor de um "regresso às cavernas". Da mesma forma, para regressarmos aos nossos exemplos, que nem todos os defensores da despenalização da interrupção voluntária da gravidez defendiam uma sexualidade irresponsável, nem os defensores da eutanásia promovem a ideia de um extermínio geral dos doentes. Os primeiros, por exemplo, falavam nos direitos da mulher sobre o seu próprio corpo. Os segundos, de uma morte assistida e apenas nos casos de doentes crónicos sem recuperação. Argumentos discutíveis, sem dúvida, mas sérios e a ter em atenção. Sobretudo se se tratar de eutanásia voluntária, para falarmos do último exemplo, em que é o próprio doente que manifesta a vontade de pôr termo a uma vida insuportável. Tal como aconteceu com Ramon Sampedro, um caso que dividiu a Espanha retratado em Mar Adentro, um filme de Alejandro Amenábar com a brilhante interpretação de Javier Bardem. 

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